quarta-feira, 15 de junho de 2011

Universidade e polícia - diálogo impossível?

Para que a polícia possa fazer parte dessa estratégia, precisa se reconhecer e atuar como promotora e não violadora de direitos.

O assassinato de um estudante da Universidade de São Paulo (USP), além de uma enorme tragédia, reacendeu o debate sobre segurança no campus. Infelizmente, a discussão ficou reduzida à presença ou não da polícia.

Fui aluna da USP por 10 anos. Ao longo desse período, pude acompanhar as transformações relativas à segurança na universidade e em que medida elas reverberavam o aumento da criminalidade em São Paulo.

Pouco a pouco, as histórias deixaram de ser exceções para integrar o cotidiano da vida universitária. No entanto, mesmo diante de casos graves como assaltos a mão armada, estupros e sequestros relâmpago, o assunto jamais teve visibilidade ou respostas institucionais apropriadas.

O suposto constrangimento que cerca o tema - alimentado por uma ideia de segurança entendida como repressão e não como direito - está ligado ao fato de que a polícia não era até então autorizada a entrar no campus.

Democracia e liberdade são os dois pilares do discurso que justificativa tal prerrogativa. Mas o que há de democrático na morte de um aluno ? E não seria o medo o oposto da liberdade?

Fingir que a universidade é uma ilha de segurança já se provou, na melhor das hipóteses, uma atitude ingênua. Na pior delas, irresponsável.

Os alunos estão divididos: um plebiscito realizado recentementre na escola de engenharia mostrou que a maioria dos seus alunos é a favor da entrada da polícia. Ao mesmo tempo, diversos grupos têm se manifestado formalmente contra.

A resistência à presença da PM não é infundada. A intervenção desastrosa durante a greve de funcionários em 2009, a pedido da então reitora, mostrou que falta preparo à Polícia Militar para intervir no ambiente universitário. Da mesma forma, a ação recente que reprimiu a manifestação na Avenida Paulista deixou claro como a truculência desmedida ainda faz parte do repertório policial.

Acredito que, assim como qualquer espaço público, a USP precise de uma estratégia de prevenção ao crime e à violência. E como em qualquer estratégia bem-sucedida, essa deve incluir a atividade policial, mas não limitar-se a ela. Nesse sentido, sempre estive disposta a defender a presença da polícia na universidade, desde que ela viesse acompanhada de outras medidas de segurança, sobretudo de prevenção.

No entanto, um episódio recente mostrou como não é facil fazer tal defesa. Na madrugada do dia 9 de junho, policiais militares que fiscalizavam os caixas eletrônicos, no campus da Universidade Federal de São Carlos, abordaram um grupo de alunos que ocupava o restaurante universitário. Como resultado, dois estudantes foram levados para delegacia onde, segundo relatos e o exame de corpo delito, sofreram uma série de agressões físicas e morais, inlcuindo espancamento.

Uma universidade que preze qualidade, autonomia e excelência tem de ter a segurança e, portanto, a liberdade de seus alunos, professores e funcionários como prioridade. Para que a polícia possa fazer parte dessa estratégia, ela precisa se reconhecer e atuar como promotora e não violadora de direitos. Mais do que isso, deve entender, definitivamente, que vivemos em um Estado democrático de direito, onde abusos como esse não têm lugar.
Matéria do site ÚLTIMO SEGUNDO

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