terça-feira, 2 de outubro de 2012

Após caso de estupro, procurador quer ação da PM dentro da Ufes

Prefeito da Ufes defende política de segurança atual e alunos divergem.
Jovem de 19 anos foi vítima de estupro durante festa rave em setembro.

Assaltos, consumo de drogas, depredações do patrimônio público e até estupro em festa rave já foram registrados na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), em 2012. Com base nestas ocorrências, o procurador do Ministério Público Federal (MPF-ES), André Pimentel Filho, defende a permanência da Polícia Militar no local.

Em contrapartida, para o prefeito da cidade universitária, a segurança privada, as guaritas e as câmeras de videomonitoramento são suficientes para garantir a segurança dos estudantes e frequentadores da Ufes.

A Polícia Militar informou que todas as vezes que é acionada comparece ao local para dar o suporte necessário, mas para fazer o serviço permanente e ostensivo, a universidade deveria firmar um convênio com o governo estadual para disponibilizar o efetivo.

Para o procurador André Pimentel Filho, algumas situações na Ufes chegaram a um ponto “insustentável”. Por esta razão, ele defende o policiamento na universidade, como é realizado nos bairros. “Não há empecilho nenhum para que essa medida seja tomada por parte das autoridades. Fica a critério do comandante da polícia enviar uma equipe para fazer o patrulhamento. Temos que entender que se trata de uma área com fluxo intenso de pessoas, além de ser aberto ao público. Tem bancos, restaurante e qualquer um pode entrar e sair a hora que quiser, sem nenhuma revista”, disse.

Pimentel explicou que muitas pessoas desconhecem o livre acesso da PM na Ufes. “Alguns dizem que área é federal e por isso a Polícia Militar não pode entrar. Isso não existe. É uma lenda. Dependendo do crime, danos ao patrimônio, por exemplo, cabe a Polícia Federal intervir, mas casos como sequestro relâmpago, estupros, consumo de drogas e assaltos, como já aconteceram, cabe a polícia comum investigar. Por isso a PM tem livre acesso e sempre teve”, completou o procurador.

Ufes

O prefeito universitário Luiz Heleno Ferracioli Nunes defendeu a permanência do projeto adotado. “Temos a universidade nas nossas mãos. Estamos fazendo investimento na iluminação, trocamos mais de 400 lâmpadas e reatores. Estamos equipando a vigilância com novos uniformes, carros e motos, além de fazer uma relocação dos postos”, explicou.

Ferracioli informou ao G1, por telefone, que, até janeiro de 2013, os campi de Goiabeiras e Maruípe em Vitória, além dos de Alegre e São Mateus, vão ganhar, ao todo, 996 câmeras de videomonitoramento. “As novas câmeras vão permitir a visualização dos carros estacionados e circulação de pessoas, inibindo os possíveis delitos. Além disso, temos um inspetor com carro circulando 24 horas pelo campus de Goiabeiras e dois vigilantes em duas motos que percorrem os mais de 2.500 mil m² (2 milhões e 500 mil metros quadrados)”, disse.

Luiz Heleno Ferracioli enfatizou que todas as vezes que a Polícia Militar é chamada para atender ocorrências dentro da universidade, uma equipe chega em no máximo 5 minutos. Disse ainda que a suspeita de estupro dentro da Ufes, durante um festa rave, foi um caso a parte.

Polícia Militar

O coronel Edmilson dos Santos, do Comando de Policiamento Ostensivo Metropolitano (CPOM) da Polícia Militar, informou que o policiamento cotidiano só não é realizado na Ufes, como é feito em um bairro, como sugere o procurador André Pimentel, porque não existe uma definição política entre a reitoria e a Polícia Militar.

O comandante destacou que todas as vezes que a equipe é acionada, um carro de polícia vai ao local o mais rápido possível. “Para haver o policiamento ostensivo seria necessário um quantitativo de ocorrência, o que no local não é muito elevado. Agimos conforme o mapa do crime, o que na Ufes não é alarmante, não são muitos registros de crimes. Se acontece muito, as pessoas não estão registrando o Boletim de Ocorrência nas delegacias”, explicou.

O comandante do CPOM, disse ainda que não existe qualquer vontade da PM em não fazer o policiamento no local, mas já que existe a área com vigilância particular, os trabalhos dos militares são voltados para os bairros onde há mais necessidade de segurança e presença da polícia. “Não podemos desviar uma equipe para um lugar sem prioridade. Entendemos que a Ufes conta, de alguma forma, com segurança e por isso outros lugares recebem mais atenção”, disse Edmilson.

Universitários

Os posicionamentos sobre a ação efetiva da Polícia Militar na Ufes divide opiniões. O diretor de formação política do Diretório Central dos Estudantes (DCE) e estudante de comunicação social, Kauê Scarim, da Ufes, não concorda com policiais militares constantemente no local. “Gostaria que a guarda patrimonial continuasse os trabalhos. Defendo a criação de uma guarda ou polícia universitária, que consiga atender as demandas da comunidade universitária. O ambiente deve ser diferente, com uma qualificação e valorização dos profissionais, que entenda 20 mil pessoas no mesmo espaço, com todas as ações culturais. Só mesmo a guarda universitária poderá entender a necessidade de produção cultural, características do ambiente”, explicou o estudante.

Para Kauê, a Polícia Militar não seria capaz de garantir a segurança de todos, já que, de acordo com ele, as pessoas que estão do lado de fora da Ufes não se sentem totalmente seguras. “O clima lá fora está muito ruim, é de repressão. Precisamos viver o ambiente universitário, com eventos culturais. A universidade pública é diferente das faculdades particulares. Se colocarmos a PM aqui, iremos na contramão”, opinou.

Quem já foi vítima da criminalidade dentro da Ufes, quer mais segurança e acredita que a polícia poderia garantir a tranquilidade dos frequentadores. “Há aproximadamente duas semanas, fui assaltada dentro do campus de Goiabeiras à noite. Eu estava perto da biblioteca, um homem se aproximou, me rendeu com uma faca e levou a minha bolsa. Procurei os seguranças, que não estavam por perto, deram uma volta e nada foi encontrado. A Ufes é muito escura, tem pouca segurança e precisamos da polícia com toda certeza”, contou a estudante de contabilidade Gabriela Karine Vieira, de 21 anos.

O estudante de ciências sociais da Ufes, Rodrigo Tavares, de 25 anos, concorda com a ideia de Kauê Scarim. Para ele a PM não precisa descolar uma equipe para a Ufes. “Isso poderia criar conflitos internos e deixar a universidade com clima de tensão. A Ufes é um ambiente de estudos e não de criminalidade. Os policiais poderiam militarizar o local e isso não seria visto de forma positiva pela maioria”, disse Tavares.

A estudante do 9º período de odontologia, Taís Pertele, conta que já passou alguns sufocos no campus de Maruípe. “O estacionamento é uma coisa triste, os muros são baixos. Para eu entrar ou sair do carro, saio correndo para que nada aconteça. Conheço várias pessoas que já tiveram bolsas, carros e celulares roubados. Os seguranças nem sempre estão por perto e quando algo acontece eles precisam acionar a PM. Se a polícia estivesse lá, a ação seria muito mais rápida”, conclui Tais.

Fonte: G1
Enviado por: Mozarte - UFRGS

Nenhum comentário:

Postar um comentário