segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Estupro, assaltos, armas e arrastão assustam estudantes da UFPE

O medo tornou-se rotina no campus Recife da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Estupro, assalto, arrastão. Segundo os alunos, já houve de tudo na instituição nas últimas semanas. Muitos estudantes foram feridos ou roubados. O restante, que antes se orgulhava de estar em uma das universidades federais mais bem avaliadas do país, agora tem medo de ir à aula.

A onda de violência veio à tona há dez dias, quando uma aluna revelou ter sido estuprada na saída da universidade. Eram 20h30 quando ela foi rendida por um homem, que levou seus pertences e a fez andar ao seu lado, de mãos dadas, até um terreno baldio. Ali, em frente à Casa da Estudante Feminina, a jovem contou ter sido agredida e estuprada. Ela conta que o homem já havia abordado outras duas mulheres no mesmo dia. Traumatizada, a vítima desistiu da faculdade e voltou para sua cidade natal. “Sim, esses acontecimentos destroem sonhos e 'tiram' a liberdade de viver”, escreveu na rede social.

O relato da estudante assustou e gerou revolta entre os alunos da universidade e os relatos de violência só aumentam. Alunos assaltados e ameaçados têm compartilhado histórias no grupo da UFPE no Facebook para alertar os colegas e cobrar medidas de segurança. Segundo os estudantes, assaltos já eram comuns, mas estão cada vez mais frequentes. Só nos últimos dez dias, foram relatados nas redes sociais ao menos cinco assaltos, um arrastão e uma tentativa de estupro. Homens armados também foram vistos entre os prédios da universidade.

A Polícia Civil informou que o delegado Joel Venâncio é o responsável pela investigação do caso de estupro. O G1 tentou contato com ele mas não obteve retorno. Em nota, a Polícia Militar informou que a segurança da área interna é de responsabilidade da universidade e assegurou que faz o policiamento ostensivo da área externa por meio do 12º Batalhão da PM, do Grupamento de Apoio Tático Intensivo (Gati) e do motopatrulhamento. O telefone da Patrulha do Bairro é o 98494.3082. A PM pede ainda que as ocorrências sejam registradas na Polícia Civil e que os estudantes evitem expor objetos de valor.

No final de agosto, uma estudante foi abordada no caminho de volta para casa e acabou estuprada no terreno baldio que fica em frente à Casa de Estudante Femina (Foto: Marina Barbosa / G1)

“Você nunca vai para a Federal achando que está protegida. Ao contrário, você vai e sabe que pode ser assaltado. Antes de eu entrar já sabia que era perigoso, mas agora está muito pior. Nós, alunos, estamos meio desesperados”, completou Emanuele Alves, 21.

Quem mora nas casas estudantis localizadas dentro do campus está ainda mais assustado. Millena Aquino, 20, por exemplo, já não fica mais com a porta do quarto destrancada. “Achava a casa segura, porque os seguranças sempre ficam aqui na frente. Mas agora estou com medo. Segunda [28] teve um assalto aqui na frente. Além disso, o caminho para cá é muito esquisito. É escuro, deserto e não tem segurança em boa parte. Estou com receio de ir à aula e voltar sozinha à noite", confessa a estudante, que saiu de Bezerros para estudar no Recife. "Não imaginava que isso pudesse acontecer dentro da universidade. Estou chocada."

Na residência que fica em frente ao terreno em que o estupro foi cometido, o clima é ainda pior.

Após o crime, as alunas se reuniram com representantes da universidade para pedir reforço na segurança. O vigilante extra designado não foi suficiente para deixá-las seguras. "Desde que cheguei, a recomendação é não passar sozinha pela 'Rua dos Bancos' depois das 17h, porque ali é mal iluminado, deserto. A insegurança é antiga, mas agora está muito pior, tenho andado super nervosa", revela Daniella Moraes, 35.

Medo atinge principalmente quem mora nas casas estudantis situadas dentro do campus. Nesta semana, um homem abordou uma aluna ao lado da residência usando uma espingarda (Foto: Marina Barbosa / G1)

Os homens também não estão ilesos. Júlio Policarpo já deixou de sair para tentar se proteger. "Eu moro perto de onde ocorreu o estupro e estou com medo de vir para a faculdade, porque o caminho é muito perigoso. Não saio mais sozinho à noite. É triste, mas você tem que mudar seus planos por amor à vida”, explica. Mesmo com a precaução, ele diz continuar sujeito à violência. Então, pede mais iluminação e segurança no campus e no seu entorno, além de mais diálogo com a universidade. “O campus é mal iluminado e tem muitas áreas desertas, então a gente fica com medo. Eu mesma já não vou para a parada sozinha e estou saindo mais cedo da aula", confirma Kathrin Santana, de 22 anos.

Uma estudante que preferiu não se identificar revelou que a professora encurtou a aula da noite por causa da insegurança. “A aula acaba às 22h10, mas estamos largando às 21h30 porque as paradas de ônibus são muito esquisitas. É um absurdo a gente sair mais cedo ou evitar pagar cadeiras à noite por falta de segurança. Mas, infelizmente, tornou-se preciso, porque é nossa segurança que está em jogo", completa. “Agora só andamos em bando para tentar nos proteger”, disse.
Alunos estão com medo de ir à universidade e já não andam mais sozinhos. Eles esperam os amigos saírem da aula para não ficarem sozinhos nas paradas de ônibus (Foto: Marina Barbosa / G1)

Ocorrências

Só nesta semana, três assaltos foram relatados no entorno e no campus Recife da UFPE. O último foi na noite de quarta-feira (30), depois que um grupo de alunas realizou um protesto para cobrar medidas de segurança na universidade. No Facebook, um aluno contou que três homens, portando armas brancas, assaltaram os passageiros do ônibus em que estava na BR-101, poucas paradas depois da Federal.

Uma professora que preferiu não se identificar disse que a história foi a mesma na sexta-feira (25). Ela estava no coletivo, voltando para casa, quando dois homens armados entraram na altura da reitoria. Algum tempo depois, anunciaram o assalto. Eles tomaram carteiras, celulares e a renda do ônibus. Desceram logo depois, ainda na BR-101.

Na segunda-feira (28), o roubo foi dentro do campus e o suspeito estava com uma espingarda. A Polícia Militar confirmou que um homem usou uma arma de grande porte para assaltar estudantes, mas acabou fugindo. Daniela Ribeiro conta que eram 19h e estava ao lado da Casa de Estudante Mista, dentro do campus, quando foi abordada. “Ele mostrou a arma e pegou meu celular. Quando pediu o da minha amiga, os seguranças da federal viram e atiraram para cima. Ele saiu correndo e não foi encontrado”, lembra a aluna, que deixou de ir à aula na quarta por medo de ser abordada novamente.

A Polícia Militar confirmou que uma espingarda calibre 28 foi apreendida por policiais perto do giradouro da UFPE na segunda-feira (28) após informação de que um homem estaria realizando roubos naquela região. O suspeito largou a arma e fugiu ao avistar os policiais e não foi encontrado durante as buscas.
Alunos contam que as paradas da saída da universidade que ficam às margens da BR-101 são as mais perigosas e têm vários assaltos. Muitos ladrões também roubam os ônibus (Foto: Marina Barbosa / G1)
No mesmo dia, um homem armado foi visto andando nas proximidades do Centro de Ciências Biológicas (CBB). Na semana passada, o mesmo já havia acontecido no Departamento de Química. No Facebook, uma aluna contou que um homem armado entrou no prédio na quarta-feira (23). Quem estava largando ficou preso na sala de aula e quem estava chegando não pôde entrar. Os seguranças alertaram todos os estudantes, mas não encontraram o suspeito.

Dois dias depois, as vítimas foram os alunos do Centro de Artes e Comunicação (CAC) e do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH). Cecília Morais, 24, conta que estava na parada de ônibus que fica na saída dos centros quando seis adolescentes armados com cacos de vidro começaram a realizar assaltos. Muita gente correu, mas Cecília não conseguiu escapar. Não teve nada roubado, mas foi ferida, teve que engessar e levar pontos no braço. “O menino que me abordou tinha cacos de vidro na mão. Foi agressivo, pediu o celular, como não achou na minha bolsa, me cortou com o vidro duas vezes no braço e me empurrou. Nisso, bati o braço e tive uma luxação”, relata a estudante de administração.
Muitas paradas de ônibus não têm iluminação ou segurança e ficam desertas (Foto: Marina Barbosa / G1)

Ainda na semana passada, uma aluna do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH) revelou ter sofrido uma tentativa de estupro no banheiro do próprio prédio. Como muitas pessoas passaram pelo corredor, ele acabou indo embora, correndo. Muitos outros estudantes comentaram casos de violência, mas não quiseram se identificar por medo de represálias. Uma aluna chegou até a supor que, com o último estupro, os ladrões possam ter percebido a falta de segurança do campus e se aproveitado da situação.

Na quarta-feira (30), o reitor da UFPE, Anísio Brasileiro, se reuniu com o secretário de Defesa Social de Pernambuco, Alessandro Carvalho, para discutir a violência no entorno do campus. Segundo a universidade, foram acordadas meninas de reforço da segurança. O resultado da reunião será apresentado em coletiva de imprensa nesta quinta-feira (1º).
Entre os prédios da universidade, ruas são mal iluminadas e desertas (Foto: Marina Barbosa / G1)

Enviado por: Mozarte - UFRGS
Fonte: G1

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