quarta-feira, 6 de abril de 2016

Após ato contra estupros, UFRRJ assume insegurança e pede desculpa

Mulheres que estudam na Rural, em Seropédica, cobram mais segurança.
Página virtual reúne mais de 600 relatos de abuso sexual no campus.


Depois de ter o prédio ocupado por alunas cobrando providências contra crimes sexuais cometidos contra mulheres em seu campus em Seropédica, na Baixada Fluminense, a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) divulgou nota pública reconhecendo falhas na segurança. No comunicado, a instituição ainda pede desculpas pelo “inadequado acompanhamento” de um dos casos de estupro ocorrido em suas dependências.

O protesto, realizado na tarde desta segunda-feira (3), mobilizou dezenas de estudantes, que se vestiram com roupas pretas e usaram batom vermelho simbolizando, respectivamente, o luto e a defesa da liberdade feminina. “Não nos calaremos”, gritavam as estudantes no prédio principal da universidade.

De acordo com uma estudante de história, de 18 anos, a mobilização foi motivada pela condição insegura das alunas da Rural, que convivem com constantes casos de abusos sexuais. Dados oficiais do Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro (ISP-RJ) apontam que em 2015 foram registrados 28 casos de estupro na 48ª DP (Seropédica). Os dois primeiros meses de 2016 somam dois casos.
Alunas da Rural ocuparam o prédio da Reitoria para cobrar mais segurança para as mulheres que estudam em Seropédica (Foto: Mariana Vieira/Arquivo Pessoal)Alunas da Rural ocuparam o prédio da Reitoria para cobrar mais segurança para as mulheres que estudam em Seropédica (Foto: Mariana Vieira/Arquivo Pessoal)


As estatísticas de março ainda não foram divulgadas pelo ISP, mês em que ocorreu o caso de estupro mais recente e com maior repercussão dentro do campus da Rural.

“Uma menina foi estuprada dentro do campus por um aluno da educação física. Ele foi visto desfilando pela Rural com a calcinha da menina na cabeça, a exibindo como se fosse um troféu. A reitoria fez de tudo para abafar o caso. Foi extremamente grave. A menina abandonou a universidade, voltou para a cidade dela, enquanto o agressor continua caminhando por lá impunemente”, contou a aluna de história.

Na nota pública divulgada pela universidade, horas depois do protesto, a Reitoria afirma que tão logo tomou conhecimento do estupro ocorrido em março, o vice-reitor da instituição, Eduardo Mendes Callado, “prestou todo o apoio necessário à vítima, tendo acompanhado a mesma até a 48ª DP (Seropédica), onde foi feito o Registro de Ocorrência. Ele também a acompanhou ao Instituto Médico-Legal (IML) para a realização de exame de corpo de delito”. Destacou ainda que foi instaurado um Processo Administrativo e Disciplinar para apurar o caso e que a comissão formada para apuração dos fatos “adotará todas as providências previstas no Regimento Geral e no Código Disciplinar desta Universidade, com a aplicação integral das sanções recomendadas”.

Ao relato da aluna, somam-se outros mais de 600, registrados por meio da página “Abusos cotidianos – UFRRJ”, criada no Facebook por uma das muitas vítimas com o objetivo de denunciar a violência sofrida pelas mulheres na universidade. Há relatos de casos ocorridos desde 1970.Rotina de medo
Em um ano de curso, a estudante de história, relata já ter sido vítima de agressão dentro do campus. “Eu fui parada por um cara, puxada pelo braço e quando eu empurrei ele, me puxou, me agarrou. Ele só parou porque um amigo viu e interveio. E isso foi à luz do dia”, contou.
Página no Facebook criada em 2013 reúne relatos de mulheres sobre abusos sexuais sofridos nas dependências do campus em Seropédica. (Foto: Reprodução/Facebook)Página no Facebook criada em 2013 reúne relatos de mulheres sobre abusos sexuais sofridos nas dependências do campus em Seropédica. (Foto: Reprodução/Facebook)


Na nota publicada após o protesto desta terça-feira, a UFRRJ disse reconhecer “que existem problemas de segurança no campus Seropédica” e pediu “apoio de toda a comunidade acadêmica para ajudarmos uns aos outros”. Destacou que “aumento da ocorrência de casos de violência contra a mulher no interior das universidades brasileiras é uma dura realidade” e ressaltou que “devemos considerar as dificuldades e as limitações da nossa realidade institucional” para o atendimento propostas discutidas no Fórum para a Construção de Políticas Institucionais de Acolhimento às Vítimas de Violência Contra a Mulher, realizado entre 7 e 9 de dezembro do ano passado.

No mesmo comunicado, a UFRRJ disse ser “solidária às vítimas” e registrou “um pedido de desculpas em relação a outro caso de violência, ocorrido em 2015, ao inadequado acompanhamento do mesmo”.

“Eles deram uma resposta, finalmente, mas ainda é muito raso. Não é de hoje que cobramos uma solução. A gente briga por mais iluminação, por mais segurança. A gente não tem segurança para andar e as distâncias dentro do campus são muito longas. E não é só dentro do campus não. A maioria de nós, alunas, mora em Seropédica e a gente não sair sozinha, nem para ir ao supermercado de manhã, com medo de assalto e de ser estuprada. É um problema da cidade”, enfatizou uma estudante.

Matéria completa, visite: http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2016/04/apos-ato-contra-estupros-ufrrj-assume-inseguranca-e-pede-desculpa.html 

Fonte: http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2016/04/apos-ato-contra-estupros-ufrrj-assume-inseguranca-e-pede-desculpa.html

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